sexta-feira, 18 de maio de 2012

Hans von Richthofen na Frente Ocidental

     O Inverno nunca mais acaba, parece durar há uma eternidade. Já passaram mais de dois anos, desde que cheguei à Frente Ocidental, às trincheiras.
Por vezes, por breves instantes, sonho com os campos floridos da minha aldeia, com os raios de sol e com o arco-íris. (Prof. Isabel Sampaio)
Gostaria de andar a correr pelas ruas, sem destino… Andar de manga curta, de calções… (Sónia Neves)
Chamo-me Hans von Richthofen, tenho 35 anos. O meu pai combateu na guerra Franco- Prussiana e por isso, desde pequeno que ouvi falar sobre guerra, em casa. Apesar do meu nome, nada tenho a ver com o Barão Vermelho.
Desde que aqui cheguei, não penso noutra coisa senão voltar para casa. Nós, alemães, estamos a ficar em desvantagem em relação às tropas inimigas. Pouco temos para comer.
As condições nas trincheiras são horríveis. Quando chove, temos que dormir com os uniformes encharcados. Quase que não há água potável. Há lama por todo o lado. Os charcos chegam a ser tão fundos que quase que temos de os atravessar a nado. Algumas pessoas morrem de frio. As doenças espalham-se com facilidade.          
Ontem, fomos atacados pelos franceses. Morreram cinco pessoas, incluindo dois dos meus amigos de infância: Klaus e Albert. Um novato ficou ferido. Teremos de aguardar pela noite para o ir buscar. Provavelmente será tarde de mais para ele.
A nossa sorte foi a superioridade numérica naquele momento.
É horrível ver todas aquelas pessoas a tropeçarem e a ficarem enrodilhadas nos arames farpados. Quanto mais se debatem, mais doloroso é. Outras vezes, os mais inexperientes, pisam as minas acabadas de ser colocadas por eles próprios. Parece absurdo, mas é verdade.
O meu sobrinho, Franz, estava na Frente Leste. Não sei notícias dele, há 3 meses. Talvez já esteja morto…(Saveliy Ivanov)
Durante as noites, por vezes encosto-me a sonhar com aquilo que me faz viver… a minha família, os meus amigos, a minha esposa, mas principalmente com o grande amor da minha vida, a minha filha Ângela. É com ela que sonho, com as nossas brincadeiras nos campos verdejantes, com as histórias que lhe contava para adormecer…
Estamos a planear uma emboscada, com o objetivo de liquidar o general Petain, responsável pelo batalhão inimigo, que já se encontra perto… demasiado perto…
 Pensamos atacar daqui a três dias. Fui escolhido para integrar o grupo que vai fazer a emboscada, por ser um dos melhores atiradores do meu batalhão.
Caso a emboscada tenha sucesso, prometeram-me que terei licença para voltar a casa. Mas isso, também tinha sido prometido a  um dos soldados do meu batalhão, que, quando fomos atacados ontem, foi um verdadeiro herói, uma vez que salvou sozinho mais de metade dos nossos soldados e o comandante da nossa frente não o dispensou como prometera. Ele ficou revoltado e suicidou-se.
Até à hora da emboscada, eu e quinze elementos estamos dispensados dos nossos deveres para treinarmos para o ataque numa aldeia, aqui próxima, desabitada. Lá irei preparar-me o melhor possível, pois acredito no sucesso da missão e consequentemente no meu regresso a casa. (Ricardo Silva)
Apesar das promessas feitas, estou com poucas esperanças de regressar a casa.
 Através dos nossos espiões, recebemos a informação de que tropas inimigas, lideradas pelo general Petain, irão passar nesta região mais cedo do que esperávamos.
Tivemos de alterar os nossos planos. Eles irão passar a cerca de 15 Km deste local, daqui a dois dias.
Tem que ser esta noite! Convenci seis companheiros e saímos do acampamento para o capturarmos. (Marcelo Ribeiro)
As coisas não correram como eu pensava, estou preso. Mas, pelo menos os meus companheiros conseguiram escapar.
Eram cerca das 2 da manhã, estava escuro como breu. Aproximei-me da casa, onde deveria estar o general. Não via qualquer guarda, o que achei estranho, mas queria tanto uma licença para ir a casa, que fui imprudente, esqueci as regras e precauções militares. Subi para o telhado e tentei entrar por uma janela que dava acesso ao sótão. Vi um vulto enorme, uma sombra que parecia gigante, virei-me e era apenas um gato preto que começou a miar repetidamente. Escorreguei, fazendo algum barulho. De repente, vários holofotes incidiram sobre o telhado. Tentei escapar mas estava cercado. Os soldados franceses tinham-me capturado e apontavam-me armas gritando qualquer coisa que eu não entendia, mas pelos gestos exigiam claramente que descesse, de braços no ar e me entregasse. Maldito gato! Malditos franceses! O que me irá agora acontecer… (Luís Fonseca)
Já é o quinto dia que estou preso. Cada dia parece ser uma semana e, à medida que os dias passam, penso que não irei conseguir sair desta maldita masmorra.
Eles estão tão preocupados que até arranjaram um tradutor para me interrogarem. Devem pensar que o nosso batalhão me virá resgatar. Cada vez tenho menos esperança, receio que utilizem a tortura para me fazerem falar. Se me vierem buscar, e isso é improvável num cenário de guerra, pode já ser tarde e não sei se resistirei à tortura, que deve ser muito dolorosa. Também nós, homens com treino militar, nos sentimos por vezes fragilizados. Aqui fechado, dou por mim a pensar nos campos verdejantes, com a minha querida esposa e a minha linda filha. As saudades vão-me matar antes dos franceses!...
Penso cada vez mais no dia em que poderei daqui sair e ir para casa, ver a família e os amigos. Alguns também vieram para a guerra. Não sei se ainda estarão vivos e onde estão.
Nunca fui um homem de muita fé, mas agora penso em Deus e espero que ele me dê forças para conseguir aguentar o tempo que for preciso. Tenho que resistir! (João Pedro Madeira)
No dia 11 de Novembro de 1918, um oficial francês foi-me visitar à cela. Disse-me que a guerra tinha chegado ao fim e que em breve seria um homem livre.
A Alemanha tinha capitulado. Os aliados eram os grandes vencedores. Mas, haverá numa guerra, vencedores e vencidos? Não, parece-me que somos todos vencidos.
Antes de sair, o oficial perguntou-me se era familiar do “Barão vermelho.” Nunca antes lhe tinha respondido às questões que me colocara durante os interrogatórios. Mas agora disse-lhe que não, mas que gostaria de o ter conhecido, uma vez que o admirava por este ter sido um piloto alemão notável. Nesta altura já sabia que o barão Manfred von Richthofen tinha morrido em 21 de Abril de 1918.( Prof. Isabel Sampaio)
Finalmente estou livre… Agora tenho de aproveitar. Quero voltar a estar com as pessoas de quem gosto. Continuar a fazer o que antes fazia, contar histórias à minha filha, passear pelos campos verdejantes…
Tudo me parece diferente, parece outro mundo…
Lá dentro, na prisão, estava num mundo escuro, onde já não tinha esperança. Agora que já sou um homem livre, tenho esperança e alegria, apesar da destruição causada pela guerra.
Esta Alemanha já não é a que conheci. Durante a viagem de comboio, para regressar a casa, vou olhando pela janela. Vejo muitas cidades arrasadas.
Estou a chegar a casa, já avisto os campos, não tão verdejantes como os das minhas memórias, mas o espaço grande e belo lá está e o velho ribeiro também.
O comboio parou. Procuro com o olhar a minha família e os amigos. (Joana Marques )
Lá estão eles, olhando fixamente para mim, com lágrimas a encherem-lhes os olhos: a minha mulher, a minha filha, o meu pai e, para minha admiração, Franz, imóvel, a olhar para mim. Corro para eles, abrindo os braços. Começo a chorar também. É inexplicável o que uma pessoa sente, depois de tantos anos sem ver a família. Foi ela que, muitas vezes, me deu força para continuar a lutar.
Chegámos junto à casa. Por fora, tinha um ar rústico, com trepadeiras a decorar as paredes, mas, por dentro, era feita maioritariamente de madeira, com os móveis cuidadosamente trabalhados à mão, lanternas a gás e quadros dos meus trisavós. Alguém desconhecido, que aqui entrasse, diria que éramos ricos, mas tal não é verdade.
Sento-me numa cadeira e ficamos a olhar uns para os outros, num silêncio profundo, como se estivéssemos fora dos nossos próprios corpos. Foi o meu sobrinho que quebrou o silêncio, dizendo que nunca deixou de pensar no seu tio favorito, quando esteve na Rússia. Essas palavras levaram-me a sorrir, mas por pouco tempo. Contou que o inverno tinha sido muito rigoroso e que foram pouco a pouco forçados a retirar. Quando tentavam arranjar  casas para passar a noite, as pessoas preferiam queimá-las, a ajudá-los.
A divisão do Franz tinha sido massacrada. Os oficiais foram todos mortos e só restaram 4 das 23 pessoas que compunham o batalhão. Um dos seus companheiros sabia um pouco de russo e, uma noite, os 4 tiraram a farda, vestiram roupas  de uns  cadáveres e apanharam boleia de  um camião de transporte de comida. Já no meio do nada, atacaram o motorista e seguiram em direção à Alemanha, por estradas de terra e por florestas, pois não podiam arriscar serem vistos. Uma história impressionante, assim como a sua vontade de viver.
Vou começar a trabalhar com o meu pai, um homem sério, um excelente carpinteiro, que fez a maior parte dos móveis da nossa casa. Há muito trabalho. As casas da nossa aldeia precisam de ser reconstruídas, uma vez que esta foi destruída pelos bombardeamentos.
Meses depois, nasceu o meu segundo filho, Herman. A  minha mulher está contentíssima. Quero ver crescer os meus filhos. Somos uma família perfeita e estamos felizes. Mas, às vezes, tenho pesadelos. As imagens da destruição e da morte não desaparecem da minha mente, talvez um dia … (Saveliy Ivanov)

                                                                                                                     

quarta-feira, 9 de maio de 2012

25 de Abril

Os trabalhos de pesquisa realizados pelos alunos do 6º e 9º anos, as exposições , a interpretação de canções de intervenção pelos alunos das turmas do ensino articulado da música , a presença de elementos do grupo de deficientes das forças armadas que participaram na Guerra Colonial e a palestra na qual participou o “capitão” Diamantino Gertrudes da Silva marcaram as comemorações do dia 25 de Abril de 1974 no Agrupamento de Escolas de Nelas. O então capitão e agora coronel já na reforma, Diamantino Gertrudes da Silva conseguiu cativar a atenção dos jovens estudantes das turmas do 9º, 10º,11º e 12º anos de escolaridade , descrevendo a sua participação nos acontecimentos que no dia 25 de Abril de 1974 permitiram restaurar a democracia em Portugal e respondendo às questões que lhe foram colocadas relacionando os acontecimentos do passado com a atualidade e incentivando os jovens estudantes a desenvolverem o espírito critico, para o que muito pode e deve contribuir o estudo da História.